Política no Google


Para a História do Esquecimento: quase toda busca no Google que tem a ver com política encontra, na primeira página, ThinkTanks de direita ou ultradireita e liberais ou ultraliberais.

Isso é um fenômeno notável no Brasil, pois há 15 anos era bem diferente. Por exemplo, jornais disputavam a primeira pagina com blogs, e o viés político era muito mais plural.

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Os estudantes pelados e o complô de Gramsci

Estudante nua protesta nas dependências de uma Universidade

Hoje o dia foi pesado. Encontrei um amigo - militar aposentado - que utilizou de todos os subterfúgios para mostrar para mim que a Universidade pública está com os dias contados.

Ele listou todos os argumentos do Tiozão do WhatsApp: há um "complô gramsciano" de esquerda desde as mais priscas eras, o complô gramsciano quer destruir a família e a propriedade, na universidade as pessoas andam peladas e apenas há doutrinação de esquerda, a arte é "degenerada" (sic!), as Ciências Humanas não servem para nada, na ditadura militar não existia corrupção, os militares são honestos e ponto final.

Ele também tentou me mostrar que "países evoluídos", como a Suécia, são capitalistas e o capitalismo não é tão malvado assim.

O que fiz? Tentei argumentar, apresentando fatos.

Eu disse que menos de 5% das pesquisas brasileiras em Filosofia são sobre Marx e que nenhuma é sobre Gramsci. Disse, inclusive, que um país forte investe em pesquisa pura, e deveria ter bom conhecimento de todos os assuntos, ainda mais se seus habitantes algum dia elegem algum pensador como persona non grata.

Tentei explicar que não existe "a esquerda", e sim diversas esquerdas que não se comunicam, e principalmente brigam entre si (as eleições de 2018 que o digam). A esquerda das "questões de gênero" não é bem vista por boa fatia da esquerda mais dogmática e vice-versa. E se existisse uma esquerda unificada, não se veria no Brasil tantas derrotas.

Eu disse que o PT não foi propriamente um governo de esquerda marxista, mas uma social democracia, um capitalismo de bem-estar, semelhante à Noruega e à Suécia (e para não me deixar mentir, até os comunistas chamavam Lula de liberal, o que é algo diferente de um social democrata). Disse que enquanto privatizamos a Petrobras por aqui, estatais como a Statoil (norueguesa) estão se aproveitando da situação para beneficiar os felizes noruegueses, enquanto coxinhas e petralhas cagam pela boca.

Tentei dizer que a ditadura militar talvez não tivesse tantos escândalos de corrupção porque as pessoas não os viam, mas que as informações sobre corrupção são abundantes (1, 2, 3, 4, 5, 6). Mostrei, com as falas do próprio amigo, que é estranho termos visto pessoas como Maluf e Sarney terem saído dali. 

Tendei dizer que a universidade não tem qualquer caráter de doutrinação, mas sim de pluralismo e discussão. Disse que, se os EUA por acaso instituissem uma certidão de nascimento com gênero indefinido, essa é uma questão jurídica e moral, e não acadêmica. Que, aliás, as Universidades são locais de excelência para discutir questões jurídicas e éticas. E também que as universidades são locais de pesquisa, e não escolas técnicas, e por isso qualquer assunto ali cabe, desde que bem fundamentado.

Ilustrei, inclusive, que a arte é questão inerente à Universidade, pois Universidade é local de Pensamento. Que houve uma gigantesca proliferação de Fake News a respeito de haver ali "gente pelada". Que ocorrem, sim, episódios nos quais determinados usos da arte empregam "gente pelada", por exemplo para falar de questões sobre o Holocausto nazista ou para protestar contra o número absurdo de estupros de uma cidade (e o mais surreal é ver as pessoas condenando coisas que até chegaram a virar documentário). Mas, sobretudo, há artes para além da arte clássica, empregando linguagens que não são apenas pincel e tinta.

Até cheguei a dizer que há, sim, brigas setoriais na Universidade, disputinhas de poder e lobbies bem à brasileira. Mas nada adiantou. Fato após fato, o que eu via era meu amigo tentando levantar a voz, cortar minha palavra, mostrar aquela história do WhatsApp que fala sobre o professor que convenceu que o comunismo é falso quando resolveu dar a mesma nota média para todos os alunos.

Quando ele via que o argumento do meme não vencia o argumento dos fatos (e que, enfim, eu nem sou comunista), ele apenas falava mais alto. E mais alto. E me cortava mais e mais.

A propósito: a foto acima não é de nenhum estudante universitário. É só a Mulher Melão.

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Armas e livros no novo Brasil


Hoje foi um dia estranho. De manhã, tentaram me convencer de que Bolsonaro só não fecha o Congresso porque não quer, mas que ele é "prudente" e tem 5 generais na mão, e que militares são ilibados e não-corruptos. 

Tentei conversar, dizer, falar, contra-argumentar, mas não havia espaço algum. Se eu tentava falar, o homem apenas falava mais alto, e mais e mais. Dizia sobre as virtudes do exército e de como ali não há corrupção. 

Há certa relação direta entre o aumento no tom de voz e o desconhecimento dos fatos, pois a Ditadura era muitas coisas, mas especialmente era muito corrupta (1, 2, 3, 4, 5, 6). Tanto quanto o aumento no tom de voz anula o outro e transforma a relação numa pequena guerra. 

Afinal, "guerra" é o que a turma do Bolsonaro quer fazer passar entre a gente. Um governo cujo plano de governo é inexistente (são 80 slides mal feitos e com erros de português, basta ir lá ver), mas cuja existência, por não existir plano, precisa então do fato de que algum inimigo exista ou caiba na carapuça.

O segundo fato estranho foi ter ouvido, de forma natural, que as universidades públicas serão fechadas ou privatizadas. Caiu assim, espontâneo, simples, direto, como fato consumado. A pessoa falava, mas parecia não estar tendo noção da gravidade do que falava. Era como quando você está desatento e acaba aceitando algo que alguém diz para você. Só que a pessoa estava desatenta e, ao mesmo tempo, falava daquilo: a universidade pública vai acabar.

O terceiro foi a notícia da liberação de armas no Brasil, ou mais precisamente o fato de que o brasileiro poderá ter em casa um fuzil

Às vezes, o sentimento de que o Brasil se perde, de que a guerra ou a desesperança se aproximam mais e mais, é insuportável.

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"Qual é sua condição?" x "A garantia sou eu"



Tá pra vir alguém que explique o Rio.

O táxi pergunta para onde você vai, e então vê se te leva; o Uber pergunta se você tem compras, para ver se te leva. E o SAMU pergunta qual é a condição social do doente, para ver se vem buscar.

Acabou de desabar um prédio em Muzema, local controlado por milícias. Um major da polícia comanda a milícia. Numa das reportagens, o dono do prédio negocia com um interessado a respeito de garantias. Diz o dono: pode acertar comigo, a garantia sou eu.

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Luiz Carlos Prestes no Jô, hoje à noite







O brasileiro está descontente. O governo favorece as grandes oligarquias. De repente aparece um político novo, diferente dos outros e com as maiores promessas de acabar com "tudo o que está aí." Quem não conhece essa história?

Escreveu Bolsonaro, no Museu do Holocausto: quem não conhece o passado está condenado a não ter futuro. Grande frase, embora - ironia das ironias! - é um esquecimento e uma variação da velha frase "quem não conhece o passado está condenado a repeti-lo", já atribuída a Che Guevara (Bolsonaro citando Che!), Santayana, Marx e Burke.

Eis, acima, uma tremenda aula de História. É Luiz Carlos Prestes, que testemunha a si próprio e sua época, na qual o "marxismo científico" ainda movia as pessoas e convicções. Ele fala sobre liberais, comunistas, Lula e Collor, o grande homem que chegou para "acabar com isso que tá aí".

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