Estudante nua protesta nas dependências de uma Universidade
Hoje o dia foi pesado. Encontrei um amigo - militar aposentado - que utilizou de todos os subterfúgios para mostrar para mim que a Universidade pública está com os dias contados.
Ele listou todos os argumentos do
Tiozão do WhatsApp: há um "complô gramsciano" de esquerda desde as mais priscas eras, o complô gramsciano quer destruir a família e a propriedade, na universidade as pessoas andam peladas e apenas há doutrinação de esquerda, a arte é "degenerada" (
sic!),
as Ciências Humanas não servem para nada, na ditadura militar não existia corrupção, os militares são honestos e ponto final.
Ele também tentou me mostrar que "países evoluídos", como a Suécia, são capitalistas e o capitalismo não é tão malvado assim.
O que fiz? Tentei argumentar, apresentando fatos.
Eu disse que
menos de 5% das pesquisas brasileiras em Filosofia são sobre Marx e que nenhuma é sobre Gramsci. Disse, inclusive, que um país forte investe em pesquisa pura, e deveria ter bom conhecimento de todos os assuntos, ainda mais se seus habitantes algum dia elegem algum pensador como
persona non grata.
Tentei explicar que não existe "a esquerda", e sim diversas esquerdas que não se comunicam, e principalmente brigam entre si (
as eleições de 2018 que o digam). A esquerda das "questões de gênero"
não é bem vista por boa fatia da esquerda mais dogmática e
vice-versa. E se existisse uma esquerda unificada, não se veria no Brasil tantas derrotas.
Eu disse que o PT não foi propriamente um governo de esquerda marxista, mas uma social democracia, um capitalismo de bem-estar, semelhante à Noruega e à Suécia (e
para não me deixar mentir, até os comunistas chamavam Lula de liberal, o que é algo diferente de um social democrata). Disse que enquanto privatizamos a Petrobras por aqui, estatais como a
Statoil (norueguesa) estão
se aproveitando da situação para beneficiar os felizes noruegueses, enquanto coxinhas e petralhas cagam pela boca.
Tentei dizer que a ditadura militar talvez não tivesse tantos escândalos de corrupção porque as pessoas não os
viam, mas que as informações sobre corrupção são
abundantes (
1,
2,
3,
4,
5,
6). Mostrei, com as falas do próprio amigo, que é estranho termos visto pessoas como Maluf e Sarney terem saído dali.
Tendei dizer que a universidade não tem qualquer caráter de doutrinação, mas sim de pluralismo e discussão. Disse que, se os EUA por acaso instituissem uma certidão de nascimento com gênero indefinido, essa é uma questão
jurídica e moral, e não acadêmica. Que, aliás, as Universidades são locais de excelência para discutir questões jurídicas e éticas. E também que as universidades são locais de pesquisa, e não escolas técnicas, e por isso qualquer assunto ali cabe, desde que bem fundamentado.
Ilustrei, inclusive, que a arte é questão inerente à Universidade, pois Universidade é local de Pensamento. Que houve uma gigantesca proliferação de
Fake News a respeito de haver ali "gente pelada". Que ocorrem, sim, episódios nos quais determinados usos da arte empregam "gente pelada", por exemplo para falar de questões sobre o
Holocausto nazista ou para protestar contra o número absurdo de estupros de uma cidade (e o mais surreal é ver as pessoas condenando coisas que
até chegaram a virar documentário). Mas, sobretudo, há artes para além da arte clássica, empregando linguagens que não são apenas pincel e tinta.
Até cheguei a dizer que há, sim, brigas setoriais na Universidade, disputinhas de poder e lobbies bem à brasileira. Mas nada adiantou. Fato após fato, o que eu via era meu amigo tentando levantar a voz, cortar minha palavra, mostrar aquela história do WhatsApp que fala sobre
o professor que convenceu que o comunismo é falso quando resolveu dar a mesma nota média para todos os alunos.
Quando ele via que o argumento do
meme não vencia o argumento dos fatos (e que, enfim, eu nem sou comunista), ele apenas falava mais alto. E mais alto. E me cortava mais e mais.
A propósito: a foto acima não é de nenhum estudante universitário.
É só a Mulher Melão.