Um museu não queima à toa
No dia 2 de setembro, data em que Maria Leopoldina assinou a independência do Brasil, o Museu Nacional - local da assinatura - ardeu em chamas. Nada mais simbólico.
Pouco sobrou. Conforme comentou Eduardo Viveiros de Castro, um dos maiores antropólogos da atualidade, o que ardeu foi o "ground zero" do pensamento brasileiro. O ponto inicial do que poderia nos dar alguma identidade nacional, e não apenas a face de um país que não sabe para onde vai.
Nas redes sociais, vejo as pessoas se emocionarem. Mas logo continuam as correntes, os memes, inclusive em prol de candidatos sem qualquer proposta para a cultura. Ou mesmo em apoio a um candidato fascista.
É o mesmo candidato fascista que disse várias vezes que vai "fuzilar" o pessoal da cultura e anexar o Ministério da Cultura como modesta secretaria dentro do Ministério da Educação. Quem seria o encarregado? Alexandre Frota (quando a coisa aperta, vem alguém para dizer: "foi 'brincadeira'"). Mas o engraçado é que as pessoas são capazes de chorar pelo Museu Nacional e não ligar essa informação ao fato que o próprio candidato de seu voto rebaixará o ministério da Cultura.
A entrevista com Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo do MN, emociona e revolta. É uma triste e pessimista análise sobre o que o Brasil está se tornando.
O brasileiro é ruim de ouvido, não sabe ouvir críticas. Crítica interna é coisa de chato e caxias. Quanto à crítica externa, ela só vale se for em sinal de reconhecimento. Se for negativa, os auto-enganos e justificações são bastante automáticos.
Então as declarações do arqueólogo egípcio Zahi Hawass passarão por nós como se não existissem (isso para quem as ler). Ele disse que, se não somos capazes de cuidar das raridades egípcias que perduraram outros 3500 anos, deveríamos então devolvê-las, ao invés de deixá-las arder. Afinal, se o descuidado é um patrimônio brasileiro, isso não quer dizer que outros países gostem do mesmo.
Um pouco desorientado, copio o link da entrevista com Viveiros de Castro e faço circular nas redes sociais. Mas logo alguém me interrompe sobre essas coisas de "ficar divulgando "links do PT". Diz ele: isso não passa de propaganda ideológica, coisa de esquerda, de intelectuais, de "gente da cultura" etc.. "Querem nos enganar, agora sobre o Museu".
Mas não havia ali nada referente ao PT. "PT" se referia ao endereço do site que entrevistou Viveiros de Castro. No caso, era o jornal "Publico", de Portugal, cujo endereço é publico.pt .
0 comentários:
Postar um comentário