Entre ejaculações e indícios

"O crime de estupro tem como núcleo típico constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. Na espécie, entendo que não houve o constrangimento, tampouco violência ou grave ameaça, pois a vítima estava sentada em um banco de ônibus quando foi surpreendida pela ejaculação do indiciado"
, diz o juiz que não entendeu como crime grave o fato de um indivíduo ejacular numa mulher num ônibus, em SP. Antecedentes? O sujeito já teve 17 passagens na polícia por crimes sexuais.

Em meio a isso tudo, vale lembrar: uma das notícias mais repetidas dos últimos anos é a do "estupro" que Julian Assange teria cometido em duas suecas. O sexo havia sido consentido, sem qualquer "constrangimento". Mas com uma delas, a camisinha havia estourado. Com a outra, houve duas relações, uma com e outra sem camisinha.

Isso teria validado a acusação de estupro. Depois disso, aquelas inúmeras ameaças de condenação e deportação aos EUA, onde Assange poderia ser condenado à morte.

A diferença em relação ao caso brasileiro é gritante...

Ou mudemos o assunto, para a relação entre "provas" x "convicções" na própria justiça brasileira. É famosa a acusação de Deltan Dallagnol a Lula. Diversos indícios para convicções valeriam como prova? Isso motivou, em muito, a postura do juiz Sérgio Moro.

Moro ganhou de presente um filme, chamado "A lei é para todos". Lição de moralidade na justiça, certo?

A considerar isso tudo, a justiça tornou réus os 18 presos naquela macarrônica infiltração de um agente do exército, o tal "Balta Nunes", num simples grupo de pessoas que iriam a uma manifestação contra o impeachment. Para quem não lembra: o exército brasileiro infiltrou um capitão para... monitorar chats de internet e detectar possíveis terroristas! O cara encontrou apenas alguns indivíduos comuns, alguns revoltados, outros até exaltados. Talvez até tenha incitado algum dado mais radical para gerar o "flagra".

O que fizeram os incautos arrebanhados pelo corajoso Balta? Nada! Mas foram presos e agora são réus. O que diz a justiça é que há muitos indícios. Indícios de que fizeram algo, certo? Não! Mas sim de que "poderiam" ter feito.

Mas talvez não houve tantos indícios quando prenderam aquele filho da desembargadora, carregando mais de 100 Kg de drogas e munição de fuzil. Ela foi pessoalmente para soltá-lo.

A imagem do Brasil atual é um homem ejaculando no cartaz do filme "A lei é para todos". A definir qual será então, aí, a aplicação da lei.

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Obra completa de Deleuze para download

Muito boa a compilação do Conexões Clínicas contendo vários livros de Deleuze.

Precioso link para guardar na coleção.

A arte é a linguagem das sensações, que faz entrar nas palavras, nas cores, nos sons ou nas pedras.

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Trabalho formal, mas sem carteira

"O trabalho por conta própria não necessariamente é informal, ele apenas não foi registrado na carteira de trabalho"
diz o economista com chancela da colunista de O Globo.

Os habitantes brasileiros de 2017 são incríveis. O trabalho formal mas sem carteira sempre teve grandes índices brasileiros, sussurrou alguém ao lado. Desde a escravidão.

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A "geração smartphone" e a vida adulta

A BBC publicou há pouco reportagem: "A geração smartphone, que bebe menos álcool, faz menos sexo e não está preparada para a vida adulta".

É muito curioso, pois se a reportagem chama a atenção à "hiperconectividade" da geração atual, preparada para se "informar" sobre quaisquer assuntos, de outro essa hiperconexão não permite um preparo para a vida adulta.

Mas enfim, o que é ser adulto?

Colado com esse, outro informe chamou muito a atenção: estamos criando uma época na qual é possível uma educação on demand, na qual não importam mais players até então importantes como professores ou um horizonte formativo, mas sim uma espécie de educação formatada sob demandas privadas. 

Nessa estranha onda atual, o discurso brasileiro pretende passar a idéia de que a educação é um problema privado, situado em questões de demandas particulares. Nesse sentido, por que não seria o mesmo em relação aos governos?

Há alguns anos, governos como o do Estado do Paraná começaram a empreender uma curiosa prática (o que me surpreende é que ocorreu sob o nome de Flavio Arns): contratar professores temporários no início do ano, para demiti-los no fim.

Esse ponto conquistado criou condições de possibilidade para que as coisas avançassem novas etapas: a criação do "professor Über", aquele que transformou a educação em bocada e precisa responder no aplicativo se dará aulas ou não.

Disso, vale lembrar algumas coisas como, por exemplo, o esvaziamento das licenciaturas brasileiras, coexistindo com anúncios de faculdades nos quais o Luciano Huck diz que ser professor pode ser um "complemento de renda".

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Sobre o blog



Em tempos de "pós-verdade" e de automática responsividade do Facebook, ficamos todos "ansiosos", vivendo em perpétua excitação e cansaço.

Algo se passou. Há muito, diziam sobre o perigo do internauta (palavra que já ficou antiga) se transformar num "zumbi cibernético".

De algum modo, já nos tornamos. Basta entrar num desses ônibus lotados - quem usa, sabe - para precisar de algum portal de escape para fora dessa vida tão... estranha. E lá vai o transeunte deslizando o dedo por entre informações, que se vão no esquecimento com a força de uma enxurrada (antigamente, ao menos os jornais embalavam os pacotes de leite).

De repente, a web precisaria de um recuo, em direção à própria pele. Já vi muita gente comparando a internet aos jornais de outrora, ou a fotografia digital com a fotografia analógica quando substituiu a pintura.

Mas algo diferente tem se passado. O "salto" tecnológico não é igual ao do rádio, da TV ou da câmera analógica. Há algo mais, e não sei bem se isso é um "salto".

É preciso ver as coisas mais de perto. É preciso, talvez, também manter certa distância, deixar de lado tanta excitação instantânea para ver melhor o que se aproxima.

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Fotografia e composição

Ascension by Jkboy Jatenipat on 500px.com

Incrível vista de Torres del Paine... com incrível arte visual.

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Kant no século XXI

O Prof. João Fernandes Teixeira acabou de publicar "Kant no século XXI: a “Crítica da Razão Pura”, a filosofia da mente e a ciência cognitiva", pela Editora Fi.

Parece um belo texto de introdução, sem perder o rigor. O livro pode ser baixado gratuitamente. Release:

O grande processador que organiza o conhecimento é, na filosofia de Kant, o sujeito transcendental, um sujeito idealizado, uma máquina virtual que recebe a informação vinda do mundo e a unifica de acordo com um conjunto de regras lógicas universais, transformando-a em conhecimento. Se fizermos uma analogia com um computador, isso significaria que ele queria desvendar o sistema operacional dessa máquina, o Windows ou o Android, que servem de organizadores básicos da informação. Um sistema operacional é um software que pode ser executado em vários tipos de máquinas como um tablet, um smartphone ou um notebook. Um software é uma estrutura lógica que existe independentemente da base física na qual ele pode ser instalado. Da mesma forma, o sujeito transcendental é uma estrutura lógica que não depende de nenhuma mente específica. O estudo das características desse sujeito transcendental nos fornece as condições que tornam o conhecimento possível. Esse é o projeto da Crítica da Razão Pura. Quem folhear a CRP pela primeira vez encontrará nela três partes: a Estética Transcendental, a Analítica Transcendental e a Dialética Transcendental. Essas partes correspondem ao modo pelo qual Kant estabeleceu uma hierarquia virtual do conhecimento.

O Prof. Teixeira publicou também, há pouco, um capítulo em "Philosophy of Mind: Contemporary Perspectives", com vários outros autores. Vale a pena conferir.

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