A verdadeira riqueza

A beleza e a verdadeira riqueza são sempre assim, baratas e despreparadas. O paraíso poderia ser definido como o lugar que os homens evitam.
- Thoreau, Maçãs Silvestres e Cores de Outono.

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Fim da CLT e terceirização irrestrita: um dia histórico (para a história do esquecimento)

Hoje é um dia histórico. O STF aprovou a contratação terceirizada sem restrições, exatamente um dia após Temer anunciar aumento de 16% ao STF.

Um dono de restaurante poderá terceirizar todos os funcionários, inclusive os de atividades-fim. Um diretor de escola poderá terceirizar todos os professores. E assim por diante, o emprego brasileiro tornou-se um arranjo de frangalhos.

A tese é de modernização e liberalização, desburocratizando leis "rígidas" e maleabilizando as iniciativas individuais. Diz o ministro Barroso:
Estamos vivendo a revolução tecnológica. Milhões de pessoas se intercomunicam pela Internet. Vivemos sob uma nova ideologia, nova gramática. Não há setor da economia que não tenha sido afetado

A aparência de modernização não esconde a facilidade em provar como tudo isso favorecerá a degradação de nossa malha trabalhista, com vínculos precários, instáveis, frutos de negociatas e jogos de lobby e privilégios, baixando o valor geral dos salários e a qualidade dos serviços. Sem contar o mito de que o numero de empregos aumentará.

A aposta é dupla: primeiro, a idéia de que se cada um for entregue a si mesmo, haverá uma "competição" na qual a qualidade dos serviços aumenta e apenas o "mais forte" e "competente" tem sucesso; e a idéia de que a sociedade de fato se beneficiaria como um todo, sistemicamente, com isso.

Moral da história: liberdade individual e benefício coletivo.



Mas é como se esquecêssemos de quem somos. Não muito tempo atrás, o brasileiro era simplesmente entregue ao próprio corpo e ações, sem maiores leis ou idéia de país a ampará-lo. Sempre fomos uma sociedade de eiras e beiras.

Darcy Ribeiro dizia: aqui não passava de um "moinho de gastar gente". Nada mais longe do que qualquer idéia de liberdade individual.

Mas enfim, quando criada a CLT, Getúlio Vargas a anunciou em alto e bom tom. Houve grandes consequências populares e nos jornais. As leis vigoraram por décadas.

Hoje, sob transformação tão importante, a notícia passou quase despercebida. Não chegou a ser preocupação nas ruas. Ninguém se importou com isso.

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Entrevista com Agnes Heller

Fui marxista durante uma época, mas desde então não quis nenhum ismo, nem mesmo o de anti-marxismo. É algo que aprendi com Michel Foucault, que nenhum filósofo pode aderir a um ismo. Estávamos juntos em Nova York e um jovem se aproximou de Foucault e perguntou: “Professor, você é estruturalista ou pós-estruturalista?”. E ele respondeu: “Sou Michel Foucault”. Nem todos os filósofos contemporâneos pertencem a escolas, tendências...

Bela entrevista com Agnes Heller, no El Pais. 

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O Rio e suas temporalidades


Você vai pedir a pizza na pizzaria. Não passam cartão e pedem para esperar o motoboy com o troco. Mas claro, cabe a você confiar se o motoboy vai chegar logo e se haverá troco.

No Brasil no qual dizem que o liberalismo está na moda, é tudo por sua conta e risco, e claro, uns 90% de outras coisas não contabilizadas, como o jeitinho brasileiro. Aquilo que Darcy Ribeiro chamava de "cunhadismo", Sérgio Buarque de "homem cordial" e "aventureiro", DaMatta de "você sabe com quem está falando?". É um liberalismo de autoridades, bastidores e privilégios. O brasileiro liberal é aquele de Carlos Augusto Taunay, do Manual do Agricultor Brasileiro, que ao mesmo tempo pregava liberdade econômica e economia escravocrata.

Então você desiste, sai da pizzria e vai pedir um sanduíche. A atendente cumprimenta você, diz que está sumido. Parece simpática! Mas não te atende e... sai da tua frente para espremer um suco.

De saco cheio, você escolhe não ser mais servido pelo comércio tão valioso, tão especial, no qual a laranja vale mais do que um novo cliente. Então você sai caminhar, dar uma volta e pensar como tudo aquilo é tão maluco. Passa de volta na pizzaria e pergunta de novo.

O motoboy ainda não chegou.

Eis o glorioso Rio de Janeiro. O de Garotinho, Paes e Romário disputando eleição. Com as milícias aplaudindo seu candidato a senador - Bolsonaro -, o mesmo que o sul do Brasil compra como "honesto".

É o mesmo Rio no qual as pessoas caminham na rua como se estivessem sozinhas, ou dirigem como se não existissem outros carros na rua. Um grita no telefone acusando o "parceiro" que quebrou sua confiança. As duas sentam no café para falar alto da gravidez infiel e onde tudo aquilo vai dar. A dona me tranca a passagem na rua com seus cachorrinhos. Na pizzaria, o policial falava sobre favelas, tiros e adrenalina.

Nelson Rodrigues, Antonio Prata e tantos outros já haviam falado de tais coisas.

Volto a pensar na moda liberal, na proposta de armar o povo e tantas outras coisas meio estranhas. O vizinho que odeia corrupção diz, num outro lance, que apenas conversa certas coisas em reservado. Lobby, queria dizer.

Amanhã, domingo, é dia de churrasco, o que significa que também é dia de gente bêbada na rua, agressões e ameaças de morte. Não estou falando de jornal, mas de cotidiano. "Acidentes".

Agora, imagine tanta gente "livre" assim e armada. Ops, esqueci: elas já andam armadas. Arrisque mexer com alguém.

Então chego em casa, pensando: enfim um refúgio! Entro no elevador e encontro regras de convivência do tipo: antes de entrar, aguarde que o outro saia.

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Sara - Henrique Cesar

Sara by Henrique Cesar on 500px.com


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Cartier-Bresson, 110 anos

Hoje, Cartier-Bresson faria 110 anos. É, definitivamente, o olhar do século XX.

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Como (não) criar seu filho


Muito preocupada, uma mãe pergunta numa rede social: o que dar para meu filho como alternativa aos produtos eletrônicos? Confesso que minhas opções acabaram e começo a ver a criança entediada, impaciente.

Em resposta, uma rede inteira de solidariedade se arma: ela poderia dar massinha, pintura, brinquedos, brincadeiras novas, combinar para sair com as amigas e seus filhos, "por que eu, com meu filho, faço..."

Os comentários vão proliferando, com inúmeras receitas mirabolantes. Mas dentre todas, algo chama a atenção: nenhuma expressão semelhante a "auto" e "por ele mesmo". Fica a mensagem do perigo a evitar: "tédio", "impaciência", "ansiedade".

Os comentários vão se acumulando como imensos blocos a preencher um buraco, um vazio. A mãe precisa saber, pois a criança não pode ficar sem ter o que fazer.

Aí recordo de minha infância. Quanto tempo largado ao tempo. Folhas viravam dinheiro, papel virava mapa, galho de árvore virava espada... Claro, os pais e parentes sempre foram importantes, mas salta aos olhos o tempo, tão grande, no qual eu, e tantos outros, ficamos por nós mesmos. Inclusive trocávamos as brincadeiras. Ah sim: os espaços também eram diferentes.

Parece que hoje não pode haver espaço em branco, lacuna, vazio. Mas ora, é nesses espaços que alguém desenvolve autocontrole, iniciativa e criatividade. O que vou fazer com esse tempo, diante desse vazio? Parece que as pessoas não podem mais se deparar com essa pergunta. Há sempre um gadget, um programa, um software, ou uma alternativa descolada que alguém tem que dar.

E assim criamos crianças cheias, sem qualquer espaço para o insuportável vazio. Mas surpreende, pois a vida também tem lacunas, inclusive para respirar, ponderar e criar. O que seria do salto sem o recuo? Mas não há tempo para isso.

E a vida, como fica quando alguém nunca aprendeu a se deparar com a própria finitude, com o próprio vazio?

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Estar embevecido de leitura, busca, saber


Hoje aconteceu comigo, mais uma vez, algo que parece cada vez mais raro. Recebo um e-mail de um professor, já aposentado, de duas gerações anteriores à minha, orientando-me sobre vários aspectos de meu estudo.

Eu havia apenas pedido uma olhadela num texto. Em troca, recebi indicações de contatos e uma resposta atenta, transbordante, convidativa. Daquelas respostas que fazem você se reencontrar com a própria ignorância e o desejo de busca.

Fico me perguntando sobre o que se passa hoje em dia. Em geral, esse tipo de resposta é visto de duas formas: ou como arrogância ou ameaça.

Em primeiro lugar, quem diz muito e faz transbordar o copo do saber, muitas vezes, coloca-se sob posição superior, do tipo "então quer dizer que você não sabe disso?"

Em segundo lugar, é cada vez mais frequente o que vejo em muitos estudantes: não fale o que eu não entendo! Isso me gera angústia.

Sinais dos tempos... Mas como é bom reviver um momento como aquele. Um grande brinde para meu professor distante e amigo, mesmo que eu nunca tenha sido seu aluno e não o conheça.

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As falas do fascista

Dentre os candidatos às eleições 2018, todos sabem que há um candidato fascista. Mais de uma vez, o brasileiro teve motivos para não votar nele. Por fascismo, defino: o culto a regimes de exceção (e contrários ao exercício da liberdade individual), a defesa de tortura patrocinada pelo Estado e de grupos de extermínio, declarações ofensivas e criminosas contra mulheres, negros e homossexuais, a defesa da violência como método de "segurança" e a acusação de "inimigos" que precisam ser exterminados, deletados, eliminados ou tirados do caminho (mas Umberto Eco tem uma definição muito mais contundente).

Não mencionei o apoio a milícias (como as cariocas), a aceitação de propina requentada pelo partido ou o cultivo de funcionário fantasma.

Há quem diga "ele não fala ou faz as coisas a sério". Mas se raio não cai no mesmo lugar, não é meio maluco vê-lo cometendo tantas "brincadeiras"? Sinceramente. 

Ou ainda, vou começar a recolher aqui algumas de suas falas, apenas as dos últimos dias.

2 de setembro: "Bolsonaro fala em 'fuzilar a petralhada' no Acre". Mas não é só: ele fala em expulsar a "petralhada" para a Venezuela, já que o Acre ficaria  "perto". À esquerda, dirão que a fala foi literal; à direita, dirão que foi figurada. A pergunta que fica é: e numa democracia, como se porta um candidato frente a seus adversários? Mas o mais curioso é achar que o Acre fica próximo à Venezuela (se 1000 Km representar proximdiade...)

24 de agosto: "Bolsonaro quer campo de refugiados em Roraima". Não tenho palavras para comentar inúmeras passagens.
Por que Roraima, por exemplo, está fadado ao fracasso? Por causa da política ambiental indigenista. Como atender à demanda para que esses bens sejam explorados agregando algum valor para atender às bancadas desses Estados? E assim a gente vai ponteando o Brasil todo.
Esse pessoal que defende direitos humanos de marginais, em grande parte, vive de dinheiro de ONGs. Não terá um centavo para ONG que defenda o direito de marginais. O marginal para mim é um bandido que só tem um direito para mim: o de não ter direito e ponto final.
O que eu falei foi que as bancadas de segurança, que é conhecida pela bancada da bala, vai aumentar e muito. Que a violência é o que tá cabeça de todo mundo como o primeiro assunto a se buscar uma solução para ele.
Ele (Trump) quer cérebros lá dentro. Os Estados Unidos, pelo que eu entendo, são uma fábrica de cérebros. E não pode, no meu entender – no lugar dele eu faria a mesma coisa – aceitar à vontade tudo quanto é tipo de gente. Porque junto com gente boa entra quem não presta. Olha a nossa querida Roraima, Boa Vista e Pacaraima. Eu estive lá. Hoje em dia calculam que Boa Vista tem em torno de 40 mil venezuelanos. E olha só, a ditadura, quando começa a tomar forma, a elite é a primeira a sair. Essa foi pra Miami. A parte mais intermediária, grande parte foi para o Chile. E agora os mais pobres estão vindo para o Brasil. Nós já temos problemas demais aqui. Se vamos incorporar aquele exército que recebe Bolsa Família, quem vai pagar isso aí? Vamos aumentar impostos?
Primeiro, via Parlamento, revogar essa lei de imigração aí. Outra, fazer campo de refugiados. 
23 de agosto: "Bolsonaro encoraja pais a ensinarem as crianças a atirar"
O candidato à Presidência pelo PSL, deputado federal Jair Bolsonaro (RJ), disse que ensinou os próprios filhos a atirar com arma de fogo, com munição, quando eles tinham cinco anos e afirmou que "encoraja, sim" esse tipo de conduta para evitar que haja uma geração de "covardes" na sociedade. "Não podemos mais ter uma geração de covardes, de ovelhas, morrendo nas mãos de bandidos sem reagir", afirmou em entrevista nesta quinta-feira (23), depois de participar de atos de campanha em Araçatuba e Glicério, no interior paulista. Ele criticou o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e disse que esse conjunto de leis deve ser "rasgado e jogado na latrina".

"Defendo que um pai ensine o que é uma arma de fogo para seu filho, para que serve. Nas comunidades tem moleque usando fuzil maior do que ele. Não podemos criar uma geração de covardes, de submissos, partir para esse tipo de política, de sempre se entregue, não reaja"
No mesmo evento, ele declarou: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) "deveria ser jogado na latrina", pois "é um estímulo à vagabundagem e à malandragem infantil".

22 de agosto: Vídeo que lista condenações de Jair Bolsonaro não sofreu manipulação

21 de agosto: Bolsonaro vai à igreja como candidato e pode ser enquadrado por propaganda irregular.

20 de agosto: Filho de Bolsonaro aumenta patrimônio em 432% em 4 anos.

19 de agosto
Candidato à presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro explicou o que quis dizer a Marina Silva no debate de sexta-feira na RedeTV! sobre a bíblia pregar o armamento.
A declaração foi colhida pelo jornal O Globo.  Paulo fala: “venda suas capas e compre espadas”. Está na Bíblia”, declarou o presidenciável durante evento na Academia dos Agulhas Negras, em Resende (RJ).
Na verdade, um trecho semelhante ao citado por Bolsonaro está no livro de Lucas e não de Paulo.  Alertado pelo Globo sobre o erro, Bolsonaro minimizou: “Eu não lembro qual livro. Jesus Cristo não foi totalmente passivo. Expulsou os vendilhões do templo. Se tivesse arma de fogo, seria usada”, insistiu o deputado federal. (ele levou uma chapuletada de Marina Silva e de vários teólogos, inclusive com previsão de Julian Arias)

18 de agosto:
“Se eu for presidente, eu saio da ONU. Não serve para nada essa instituição”, disse Bolsonaro neste sábado (18), numa cerimônia de cadetes da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), em Resende (RJ).
“Saio fora, não serve para nada, é um local de reunião de comunistas e de gente que não tem o menor compromisso com a América do Sul”, disse após ser questionado pela Folha sobre adecisão favorável de um comitê da ONU pela candidatura do ex-presidente Lula. (18 de agosto - no dia 20 de agosto disse que foi "ato falho" e nunca havia dito isso...)



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