Governo em pés-de-chinelo


Talvez a notícia mais emblemática do governo Bolsonaro, e que imprimirá todos os próximos 4 anos, diga respeito ao fato dele ter usado chinelão e roupa maltrapilha durante o encaminhamento do projeto de reforma da previdência, na última semana. 

Explico: as roupas, os trejeitos, os chinelos do presidente causaram maior percepção, comentários, frisson ou bafafá do que a própria notícia vinculada quando ele estava assim. 

Isso dá um recado muito claro: as pessoas não estão nem aí para a reforma da previdência. Para além dos jornais, não há qualquer discussão pública. Não se fala disso nos pontos de ônibus, nos táxis, nos jantares de família. Não há memes sobre a Reforma no Facebook ou no WhatsApp. Revolta ou apoio algum. é um simples zero. 

Tudo se passa como se uma medida drástica como essa, de longuíssimas consequências, não existisse, não oferecesse qualquer motivo para o brasileiro pensar ou se preocupar.

Não obstante, isso diz muito sobre o que somos ou no que estamos nos tornando. 

Em primeiro lugar, o que se tornou a "discussão pública" no Brasil nem de longe tem aparência de discussão pública. Afinal, o próprio assunto público dá lugar a nuances de discussão privada. Por exemplo, os ditos da ministra Damares sobre os meninos usarem azul e as meninas rosa, ou a camisa falsificada do Palmeiras do presidente, ou mesmo seus chinelos rider, ganharam maior "ibope" do que qualquer outro assunto realmente público, e de grandes consequências, de seu próprio governo. 

Nem as notícias sobre Brumadinho talvez tiveram tanta repercussão, uma vez que as falas ou atos macarrônicos do governo sempre estão aí para promover um novo esquecimento. 

A ida frustrante de Bolsonaro a Davos cedeu lugar a notícias de humildade: veja como ele está cansado, como almoça no refeitório. Se não fala para a imprensa? Haverá uma entrevista bonachona à Record... 

E assim ocorreu durante um mês inteiro. Prognóstico: será assim nos próximos quatro anos. O brasileiro verá sua vida material esfacelar-se, seus direitos irem embora e o mercado de trabalho transformar-se num escambo miliciano. Mas enfim, sempre haverá um novo meme para comentar.

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